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escrito por Aías Tavares
Os labirintos da ansiedade nos relacionamentos
07/01/2023

A ansiedade exerce uma influência profunda e constante nos relacionamentos. Como uma tempestade emocional, muitas vezes silenciosa, ela pode bagunçar os pensamentos, criando tensões que muitas vezes são difíceis de identificar e lidar, deixando um rastro de preocupações e medos no seu caminho, onde cada palavra ou gesto é analisado com um filtro de insegurança - sequelas da tempestade. Estas sequelas se mantém, pois a força que impulsiona a tempestade permanece ativa. Dessa forma, pequenas situações cotidianas, que normalmente seriam resolvidas com diálogo, acabam sendo amplificadas pela ansiedade, transformando-se em fontes de conflito e preocupação - novas tempestades.
Efeitos Psicológicos da Ansiedade nos Relacionamentos
Quando um dos parceiros sofre de ansiedade, o relacionamento é colocado à prova de várias maneiras. A comunicação se torna desafiadora, e os momentos de tranquilidade são constantemente interrompidos por preocupações sobre o futuro ou mal-entendidos sobre o presente. Essas preocupações podem drenar a energia emocional do casal, minando a confiança e a segurança mútua.
Do ponto de vista psicanalítico, a ansiedade é muitas vezes alimentada por medos inconscientes, como o medo do abandono ou da rejeição. Esses medos podem ser enraizados em experiências passadas, como relações familiares complicadas ou traumas emocionais, que se manifestam no presente sob a forma de inseguranças. A pessoa ansiosa frequentemente projeta esses medos no parceiro, criando uma visão distorcida da relação, onde qualquer pequeno gesto pode ser interpretado como um sinal de afastamento, rejeição ou repetição de um trauma do passado.
Como já dito, a ansiedade gera um estado constante de alerta e desconfiança. A pessoa pode sentir a necessidade de obter garantias constantes do parceiro, buscando reafirmações de amor e compromisso. Exemplo: perguntar constantemente se o parceiro ainda ama, se é feliz ao seu lado, se acha que dará certo, se o satisfaz, se ainda que estar ao seu lado mesmo após a última briga; verificar constantemente as redes sociais do parceiro, as interações online, solicitar senhas sendo movido pela insegurança; exigir provas sociais ou provas de compromisso, planejamentos a longo prazo também movido pela insegurança, questionamentos sobre com quem estava falando, porque mudou a rota, por qual motivo demorou mais tempo; e outros. Esses comportamentos podem acabar sufocando a relação, gerando um ciclo vicioso onde a ansiedade alimenta a insegurança, que por sua vez, leva a comportamentos que distanciam ainda mais o casal. Pequenos desentendimentos podem rapidamente se transformar em grandes conflitos, devido à amplificação emocional que a ansiedade provoca.
Além disso, a ansiedade pode afetar a autoestima, fazendo com que o indivíduo duvide de seu valor e tenha dificuldades em acreditar que é digno de amor e respeito. Isso coloca uma carga emocional intensa na relação, tornando o parceiro ansioso mais vulnerável a frustrações. É essencial reconhecer esses efeitos psicológicos, pois eles não apenas causam rupturas na comunicação, mas também criam barreiras emocionais que, se não forem tratadas, podem comprometer a intimidade e o crescimento do relacionamento.

O Ciclo de Inseguranças e Interpretações Distorcidas
Quando a ansiedade se infiltra em um relacionamento, ela muitas vezes dá início a um ciclo de inseguranças e interpretações distorcidas. A pessoa ansiosa tende a interpretar de forma negativa ou exagerada as ações e palavras do parceiro, criando cenários negativos em sua mente. Comentários inocentes podem ser mal interpretados como sinais de desinteresse, e ausências momentâneas podem parecer indícios de abandono. Esses pensamentos geram uma espiral de preocupações, que reforçam ainda mais a ansiedade.
Essa dinâmica pode ser compreendida como uma defesa do ego, onde os medos e inseguranças internas são projetados no outro. A pessoa ansiosa, ao não enfrentar seus próprios medos inconscientes, acaba transferindo essas angústias para o relacionamento. Em vez de reconhecer suas inseguranças, ela as atribui ao comportamento do parceiro, ampliando as tensões. Esse ciclo pode criar um padrão repetitivo de conflitos, onde a ansiedade se torna o fator dominante que controla as interações.

Visão Bíblica sobre o Medo e a Insegurança
A Bíblia oferece uma perspectiva rica e consoladora para lidar com o medo e a insegurança, aspectos centrais da ansiedade. Em Filipenses 4:6-7, o apóstolo Paulo nos exorta: "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus." Essa passagem é um convite a confiar em Deus em meio às preocupações, reconhecendo que, por mais avassaladora que a ansiedade possa parecer, ela não precisa ser enfrentada sozinha.
Nos relacionamentos, essa visão bíblica nos lembra que a ansiedade, com sua carga de medo do futuro e inseguranças, pode ser suavizada ao entregarmos nossas preocupações a Deus. Ao invés de permitir que a ansiedade domine o espaço emocional, a fé oferece um caminho de descanso, onde o indivíduo pode confiar que há um propósito maior em ação. Essa confiança, quando compartilhada entre os parceiros, cria uma atmosfera de segurança, na qual ambos sabem que suas lutas não são invisíveis para Deus.

O processo de confiar em Deus não elimina os desafios da ansiedade, mas transforma a maneira como os enfrentamos. A partir dessa perspectiva, o medo e a insegurança que alimentam a ansiedade perdem parte de seu poder, pois são substituídos pela confiança de que existe um suporte divino que guia o relacionamento. Assim, ao recorrer à fé, tanto o ansioso quanto o parceiro podem encontrar consolo, lembrando que o amor perfeito, conforme diz 1 João 4:18, "lança fora o medo".

Estratégias Práticas para Lidar com a Ansiedade
Lidar com a ansiedade requer uma combinação de autoconhecimento, fé em Deus, práticas cotidianas, disposição para buscar o bem-estar emocional e tempo, pois é um processo gradual.
Uma das primeiras estratégias práticas é a comunicação assertiva. A ansiedade pode gerar suposições e mal-entendidos, tornando fundamental que a pessoa ansiosa expresse seus medos e inseguranças de forma clara e honesta. Isso cria um ambiente de abertura, onde o parceiro (o outro) pode oferecer apoio sem sentir que está sendo atacado ou responsabilizado pelas preocupações ou situações. Uma característica bastante comum nos relacionamentos é que o parceiro da pessoa ansiosa se sente constantemente sendo atacado. Lidar com isso buscando uma solução é um grande passo para a harmonia do casal.
Outra prática essencial é o autoconhecimento, que envolve identificar os gatilhos que despertam a ansiedade. Em um processo de análise psicanalítica é possivel navegar pelo seu inconsciente em busca de identificar estes pontos. Técnicas de relaxamento, como a respiração profunda ou a meditação, também podem ser úteis e aliadas ao processo terapêutico para reduzir o estado de alerta permanente que muitas vezes acompanha a ansiedade. Estratégias de Mindfulness também são válidas. Esse autoconhecimento é um passo importante para romper com os padrões inconscientes que perpetuam os medos. Paralelamente, a Bíblia nos ensina a importância do "descanso em Deus", como em Mateus 11:28, onde somos chamados a entregar nossos fardos a Ele. Essa prática pode servir como um ancoradouro em momentos de inquietação.
É valioso que o casal desenvolva rituais de bem-estar juntos, como praticar atividades relaxantes ou reservar momentos de qualidade sem distrações. Isso fortifica o casal. Ler um livro juntos, caminhadas ao ar livre, cozinhar juntos, jogar ou brincar, assistir a um filme ou série, saírem para jantar ou passear, participar de eventos para casais, até mesmo atividade com os filhos. Para promover essa proximidade, intimidade, esse reforço de confiança é preciso dedicação e preparação mental para isso. Como o nome diz, é uma "ritual de bem-estar", portanto, um momento para se reconectar, conversar sobre como se sentem, as dificuldades, as vitórias, os sonhos, coisas positivas do dia a dia, ou simplesmente aproveitar a companhia um do outro sem discussões sobre problemas. Se para o casal a comunicação ainda é difícil e facilmente surgem atritos, é preciso a preparação para não fazer bons momentos juntos virarem maus momentos juntos e, dessa forma, sabotar os momentos de tentativa de bem-estar do casal. O processo de aprender a lidar com a ansiedade em um relacionamento é contínuo, mas com o uso de estratégias práticas, pode-se criar um ambiente mais seguro e acolhedor para ambos os parceiros.

A Importância do Apoio Mútuo e do Amor
O apoio mútuo é um dos pilares fundamentais para superar os desafios. A pessoa que sofre de ansiedade precisa de compreensão e paciência, mas também deve estar disposto a trabalhar suas próprias inseguranças e a permitir que o parceiro tenha momentos de desconexão para reduzir o estresse e ajudar cada um a manter o equilíbrio emocional.
A Bíblia descreve o amor como paciente e bondoso em 1 Coríntios 13:4-7, nos mostrando que o amor verdadeiro não se irrita facilmente e suporta todas as coisas. O amor enfrenta as adversidades com gentileza e compaixão. Esse tipo de amor é essencial em relacionamentos marcados pela ansiedade, pois é preciso o apoio mútuo.
A pessoa ansiosa precisa reconhecer e admitir que tem um problema: a ansiedade; e que este problema tem um peso: a dificuldade em se relacionar; e que esse peso tem uma consequência: os conflitos e desgastes da relação. O parceiro que não sofre com a ansiedade precisa suportar, assim como diz o amor na bíblia, mas também precisa ser ouvido. A psicanálise aponta que a relação saudável depende de um equilíbrio entre a aceitação do outro e o autoconhecimento. O processo de apoio mútuo é, portanto, uma via de mão dupla, onde ambos os parceiros devem se comprometer com a jornada de construção de uma conexão mais sólida e emocionalmente segura.

A Terapia Psicanalítica na Superação da Ansiedade
A Psicanálise desempenha um papel essencial na superação da ansiedade, especialmente no contexto dos relacionamentos. Na psicanálise, o foco está em desvendar os medos e conflitos inconscientes que alimentam a ansiedade, muitos dos quais podem ter raízes em experiências passadas, como traumas ou padrões familiares ou raízes espirituais. Ao trazer à consciência esses elementos ocultos, a pessoa ansiosa pode começar a entender as causas mais profundas de suas inseguranças e medos, e, a partir disso, desenvolver maneiras mais saudáveis de lidar com eles. No processo psicanalítico, o paciente é incentivado a explorar suas emoções e pensamentos de forma livre e sem julgamentos, permitindo que conteúdos reprimidos venham à tona, favorecendo a construção de um relacionamento mais equilibrado e maduro, ao possibilitar o desenvolvimento de um "eu" mais fortalecido. Esse novo entendimento permite que a pessoa ansiosa deixe de projetar seus medos no parceiro e, em vez disso, enfrente esses sentimentos com mais segurança e controle emocional. O processo é gradual, mas resulta em uma relação mais saudável e livre das distorções causadas pela ansiedade.

Conclusão
O processo de cura e reconstrução de um relacionamento afetado pela ansiedade é gradual. Exige que ambos os parceiros estejam dispostos a enfrentar as dificuldades juntos, com amor e compreensão. Ao aplicar as estratégias discutidas e ao fortalecer a confiança em Deus, o casal pode construir uma relação mais sólida e baseada na confiança mútua. Enfrentar a ansiedade é, em última análise, uma oportunidade para desenvolver um relacionamento mais maduro e resiliente, onde o amor e a fé se tornam forças transformadoras.
Referências bibliográficas:
- A bíblia sagrada; Bowlby, J. (1969). Attachment and loss: Vol. 1. Attachment. Basic Books.; Hendrix, H. (1988). Getting the love you want: A guide for couples. Henry Holt and Company.; Freud, S. (1926). Inhibitions, symptoms, and anxiety. W.W. Norton & Company.; Winnicott, D. W. (1971). Playing and reality. Routledge.; Lucado, M. (2017). Anxious for nothing: Finding calm in a chaotic world. Thomas Nelson.
escrito por Aías Tavares.

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