top of page

" Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." - Mateus 6:34

escrito por Aías Tavares

Uma jornada em busca da autoestima

19/12/2022

Banner Um jornada em busca da autoestima1

Vivemos em um mundo marcado por comparações constantes e expectativas elevadas, muitas vezes alimentadas pela sociedade e, mais recentemente, pelas redes sociais. Nesse contexto, o valor que damos a nós mesmos, nossa autoestima, se torna um dos pilares centrais para uma vida equilibrada e saudável. No entanto, a baixa autoestima, frequentemente associada ao complexo de inferioridade, pode nos fazer sentir inadequados, insuficientes e até indesejáveis.

Na busca por autoestima, o autoconhecimento, a autocompaixão e a fé desempenham um papel crucial. Para quem segue a fé cristã, por exemplo, a Bíblia nos lembra de nosso valor intrínseco aos olhos de Deus, como está escrito no Salmo 139:14: "Eu Te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável". Ao longo desta jornada, é fundamental integrarmos os conceitos psicanalíticos e espirituais, pois ambos podem ser ferramentas poderosas para o desenvolvimento pessoal.

A Raiz do Complexo de Inferioridade

O complexo de inferioridade, como teorizado por Alfred Adler, é o sentimento persistente de ser menos do que os outros, nos levando a acreditar que somos menos competentes, menos inteligentes ou menos dignos. A base desse complexo está na comparação constante e no julgamento negativo sobre nós mesmos. Em vez de reconhecermos nossas conquistas e qualidades, olhamos para as realizações dos outros como padrão, muitas vezes inalcançável, e nos diminuímos.

Essa sensação de inadequação começa muitas vezes na infância, quando a criança internaliza comparações e críticas vindas de figuras de autoridade, como pais, professores ou colegas. Quando o elogio é raro ou quando as expectativas são desproporcionalmente altas, o indivíduo desenvolve uma autocrítica severa, e o medo do fracasso passa a dominar sua percepção de si mesmo. O ambiente em que crescemos é fundamental para a formação da autoestima, e quando as necessidades emocionais de reconhecimento e afeto não são atendidas, a pessoa pode carregar essas feridas emocionais para a vida adulta.

No entanto, o complexo de inferioridade não se limita apenas ao passado ou às circunstâncias familiares. A sociedade moderna, com suas altas expectativas e ênfase na competição, muitas vezes alimenta esse sentimento. As redes sociais, por exemplo, amplificam essa dinâmica, criando um ambiente onde o valor pessoal é medido pelo número de curtidas, seguidores e sucesso aparente. Isso gera uma comparação constante, onde o indivíduo se vê sempre aquém dos padrões "perfeitos" que observa nos outros.

Adler acreditava que o ser humano é movido por um desejo de superação e crescimento, mas quando esse desejo é sufocado pela autodepreciação, a pessoa entra em um ciclo de estagnação emocional. O complexo de inferioridade se torna uma espécie de armadilha interna, onde a pessoa se auto sabota, não por falta de talento ou capacidade, mas por uma crença inconsciente de que nunca será "bom o suficiente". Esse ciclo cria uma resistência à mudança e ao progresso, pois, inconscientemente, o indivíduo não se permite prosperar.

Além disso, no campo psicanalítico, essa raiz de inferioridade também pode ser entendida como uma defesa do ego. Em muitos casos, a pessoa desenvolve um mecanismo de autoproteção ao se convencer de sua incapacidade, evitando assim o risco de tentar e falhar. Ao não tentar, evita-se a dor de um possível fracasso, mas, ao mesmo tempo, o indivíduo também impede a possibilidade de sucesso. Esse é um ciclo de autossabotagem que mantém a autoestima em níveis baixos, perpetuando o complexo de inferioridade.

A Máscara da Compensação

Uma resposta comum ao complexo de inferioridade é a compensação exagerada. Muitas pessoas, ao se sentirem inferiores, tentam mascarar suas inseguranças realizando feitos espetaculares ou adotando comportamentos exagerados, na tentativa de provar seu valor para os outros — e para si mesmos. Essa necessidade de aprovação externa, no entanto, raramente resulta em satisfação verdadeira.

Na psicanálise, esse mecanismo de defesa é uma maneira de proteger o ego fragilizado, que busca suprir a carência emocional. Em vez de enfrentarmos nossas fraquezas, criamos uma máscara. Na fé cristã, somos chamados a abandonar essas máscaras e confiar no amor de Deus, que nos aceita com nossas falhas e imperfeições (2 Coríntios 12:9).

A Armadilha da Perfeição

A busca pela perfeição é uma das manifestações mais comuns e nocivas do complexo de inferioridade. Muitas pessoas, ao se sentirem insuficientes, começam a perseguir ideais inatingíveis de sucesso e reconhecimento, acreditando que somente ao alcançar uma "perfeição" irrepreensível poderão finalmente ser dignas de respeito, amor e validação. No entanto, essa é uma armadilha perigosa que frequentemente leva a sentimentos profundos de frustração, inadequação e exaustão emocional. A busca por aprovação externa substitui a validação interna.

No campo psicanalítico, a busca pela perfeição pode ser compreendida como um reflexo de um superego excessivamente punitivo, que estabelece padrões irrealistas e críticos para o indivíduo. Esse superego, formado na infância por meio da internalização das expectativas de pais e figuras de autoridade, transforma-se em uma voz interna severa que exige excelência em todos os aspectos da vida. O problema é que, na tentativa de satisfazer essas demandas, o indivíduo se afasta cada vez mais da realidade e de suas próprias necessidades emocionais.

A perfeição, ao contrário do que se pensa, é um ideal inatingível. Não importa o quanto alguém se esforce, sempre haverá algo a ser corrigido, algo que não saiu conforme o planejado ou algo que poderia ter sido melhor. Isso cria um ciclo incessante de insatisfação e autocrítica, que acaba drenando a energia psíquica e emocional do indivíduo. Esse perfeccionismo, muitas vezes, é um mecanismo de defesa para mascarar sentimentos de inadequação. Ao tentar ser "perfeito", o indivíduo evita lidar com a vulnerabilidade de aceitar suas falhas e limitações.

Um exemplo clássico disso pode ser visto no contexto das redes sociais. Muitas pessoas tentam projetar uma imagem perfeita de si mesmas, exibindo suas conquistas e momentos idealizados de felicidade. Essa constante comparação com as "vidas perfeitas" dos outros reforça o sentimento de inadequação, gerando uma espiral de baixa autoestima. A perfeição projetada nas redes sociais é, na verdade, uma ilusão cuidadosamente construída. Mesmo assim, muitos se medem por esses padrões irreais, o que alimenta ainda mais seu sentimento de fracasso e inferioridade.

O desejo de perfeição está profundamente enraizado no medo da rejeição e na incapacidade de aceitar nossa própria vulnerabilidade. Perseguir a perfeição é, de certa forma, uma tentativa de evitar a dor de ser humano – de errar, de falhar, de ser imperfeito. É uma forma de tentar conquistar um senso de controle absoluto sobre si mesmo e sobre as circunstâncias da vida, mas que acaba causando exatamente o efeito oposto: mais angústia e mais sensação de falta de controle.

Em 2 Coríntios 12:9, Paulo escreve: "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza." Esta passagem sublinha que a força real vem de nossa capacidade de aceitar nossas imperfeições e fraquezas. Em vez de tentar ser impecáveis, somos chamados a confiar na graça de Deus e reconhecer que, em nossas falhas, encontramos espaço para crescimento e redenção. A cura para a armadilha da perfeição começa com a prática da aceitação e da autocompaixão.

Autoconhecimento: O Início da Jornada

O autoconhecimento é o ponto de partida para qualquer jornada de transformação pessoal, especialmente quando se trata de superar o complexo de inferioridade e construir uma autoestima saudável. O processo de autoconhecimento exige uma investigação honesta de nossos pensamentos, emoções e comportamentos, permitindo-nos reconhecer tanto nossas virtudes quanto nossas limitações. Ao nos compreendermos profundamente, passamos a ter uma visão mais realista de quem somos e podemos começar a distinguir os sentimentos que nos fortalecem daqueles que nos prejudicam. Esse processo, no entanto, exige coragem, pois encarar nossas vulnerabilidades pode ser desconfortável e, muitas vezes, doloroso.

Para Alfred Adler, o autoconhecimento é central para o desenvolvimento individual. Ele acreditava que o complexo de inferioridade surge, em grande parte, devido à falta de compreensão sobre nossas reais capacidades. Segundo Adler, todos nascem com algum sentimento de inferioridade, mas é através da conscientização e da busca de superação que podemos transformá-lo em uma força motivadora. O autoconhecimento, portanto, nos liberta das comparações externas e nos ajuda a identificar metas genuínas, baseadas em nossos próprios talentos e potencialidades. Adler enfatizava que, ao conhecermos nossas fraquezas e reconhecermos nossa humanidade, começamos a superar a insegurança e a viver de forma mais plena.

Esse caminho de introspecção também é reforçado pela visão bíblica, como no Salmo 139:23-24, onde o salmista pede a Deus que sonde seu coração, verifique os caminhos errados e revele seus pensamentos mais profundos. Esse exercício de autoavaliação, feito com compaixão, nos permite abraçar quem realmente somos, reconhecendo que nossas fraquezas não diminuem nosso valor. Quando aceitamos que somos imperfeitos e precisamos de auxílio para enxergar além de nossas falhas, estamos nos abrindo para a transformação e para a cura emocional.

A importância dessa perspectiva é imensa, pois nos permite nos afastar da autocrítica destrutiva e caminhar em direção à autocompaixão e à humildade. Quando percebemos que não precisamos ser perfeitos, mas apenas buscar ser a melhor versão de nós mesmos, nos libertamos das amarras do perfeccionismo e das expectativas irreais. Esse entendimento traz benefícios profundos: nos ajuda a construir relacionamentos mais saudáveis, baseados na aceitação mútua, e nos permite experimentar mais paz interior, à medida que aprendemos a nos tratar com mais bondade.

Autocompaixão: A Chave para a Cura Emocional

Um passo crucial na jornada em busca de autoestima é a prática da autocompaixão. Ao invés de sermos nossos próprios críticos severos, a autocompaixão nos ensina a tratar nossas falhas e limitações com gentileza e compreensão. Na psicanálise, esse conceito está profundamente relacionado à ideia de suavizar o superego punitivo – aquela voz interna crítica que muitas vezes perpetua o sentimento de inadequação. A aplicação prática da psicanálise nesse contexto envolve ajudar o paciente a reconhecer e desafiar esses julgamentos internos excessivamente duros. O objetivo é permitir que o indivíduo desenvolva uma relação mais compassiva consigo mesmo, o que, por sua vez, possibilita o processo de cura emocional.

Na bíblia essa prática está profundamente alinhada ao conceito de graça e perdão. Efésios 4:32 nos instrui a perdoar uns aos outros, assim como Deus nos perdoa. Esse princípio também se aplica à maneira como devemos tratar a nós mesmos. Assim como somos chamados a demonstrar misericórdia aos outros, devemos aprender a nos oferecer a mesma compaixão. A autocompaixão, nesse sentido, não é uma forma de complacência ou de aceitar nossos erros sem desejo de melhoria, mas sim um reconhecimento de nossa humanidade. Aceitar nossas falhas e limitações é um passo essencial para viver de forma mais plena e saudável, em harmonia com os valores de perdão e amor que a fé cristã nos ensina.

Perseverança e Paciência

A construção de uma autoestima sólida requer perseverança e paciência. Muitas vezes, na jornada para superar o complexo de inferioridade, encontramos desafios e obstáculos internos, como pensamentos autodepreciativos e medos enraizados. O crescimento emocional, entretanto, não é algo que acontece de forma imediata; é um processo gradual que exige esforço contínuo e a habilidade de tolerar frustrações. Cada avanço, por menor que seja, deve ser visto como parte importante dessa jornada.

O processo analítico desempenha um papel crucial nesse caminho de perseverança. A terapia não é uma solução rápida, mas sim um espaço para exploração profunda e gradual das resistências internas e dos padrões inconscientes que perpetuam o complexo de inferioridade.

A Bíblia mostra uma rica perspectiva sobre a importância da paciência. Em Romanos 5:3-4, somos ensinados de que "a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança." Isso nos ensina que o processo de transformação e superação de nossas dificuldades envolve abraçar as lutas, entendendo que elas moldam nosso caráter. Ao perseverarmos, adquirimos não apenas força emocional, mas também uma visão mais clara de quem somos e do que podemos conquistar.

A Valorização das Pequenas Conquistas

Como já dito antes, uma das maneiras mais eficazes de construir uma autoestima saudável é aprender a valorizar as pequenas conquistas diárias. Muitas vezes, estamos tão focados em grandes metas que negligenciamos o progresso que fazemos aos poucos. Celebrar essas pequenas vitórias nos ajuda a manter a motivação e a fortalecer nossa autoconfiança.

Em Zacarias 4:10, Deus nos adverte a não desprezar os "pequenos começos", lembrando-nos que cada passo, por menor que seja, é valioso. Na psicanálise, reconhecer pequenas conquistas é fundamental para desenvolver uma visão mais equilibrada de si mesmo, quebrando o ciclo de autodepreciação.

Conclusão

O complexo de inferioridade é um desafio emocional que muitos de nós enfrentamos em algum momento de nossas vidas. A busca pela superação desse sentimento requer autoconhecimento, autocompaixão e coragem para enfrentar nossas inseguranças.

A jornada em busca da autoestima é uma jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. É a oportunidade de reconhecer nossos talentos e qualidades únicas, abraçar nossa humanidade e valorizar a si mesmo como um indivíduo valioso e digno de amor e respeito.

Ao nos libertarmos do complexo de inferioridade, podemos nos permitir viver uma vida mais autêntica e plena. É uma jornada de aceitação e amor-próprio, que nos leva a abraçar nossa singularidade e a encontrar significado e propósito em nossas vidas.

Acredite em você mesmo, valorize suas conquistas e reconheça que você é digno de amor e respeito, exatamente como você é. Abra-se para a jornada de autodescoberta e crescimento pessoal, e permita-se florescer em sua essência única e especial. A transformação começa de dentro para fora, e você tem o poder de criar uma vida repleta de significado e autenticidade.

Referências bibliográficas:- A bíblia sagrada; Bowlby, J. (1969). Attachment and loss: Vol. 1. Attachment. Basic Books.; Hendrix, H. (1988). Getting the love you want: A guide for couples. Henry Holt and Company.; Freud, S. (1926). Inhibitions, symptoms, and anxiety. W.W. Norton & Company.; Winnicott, D. W. (1971). Playing and reality. Routledge.; Lucado, M. (2017). Anxious for nothing: Finding calm in a chaotic world. Thomas Nelson.

escrito por Aías Tavares.

Olhe para dentro,
para as profundezas.
Aprenda primeiro
a se conhecer.

- Freud

Tire todas suas dúvidas no espaço de dúvidas frequentes.

" Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
  cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. " 

  Mateus 6:34

bottom of page