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" Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." - Mateus 6:34

 

escrito por Aías Tavares

Paranoia no relacionamento,
causas e efeitos 
(parte 2)

11/02/2023

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Na primeira parte falamos do conceito e das formas de manifestação, agora vamos para uma etapa mais delicada: entender de onde essa paranoia surge e como ela se desdobra na vida psíquica, afetiva, espiritual e familiar do casal.

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Vimos que a paranoia não é apenas um “ciúme forte” ou uma “mania de controle”. Trata-se de um modo de funcionamento psíquico que, quando se instala, pode transformar a relação em um ambiente tenso, cansativo e emocionalmente perigoso para os dois.

Essa dinâmica entra em choque com a proposta de um amor que se constrói sobre confiança, paciência e verdade - se é que você acredita neste amor. O amor não se guia pela inveja nem pela suspeita permanente, mas se sustenta em uma confiança que abre espaço para o cuidado e para o compromisso mútuo. Quando a paranoia assume o comando, essa dimensão do amor é substituída pelo medo, e o medo passa a ditar as regras do relacionamento.

É importante deixar claro desde o início:

  • Este texto tem caráter educativo e reflexivo, não serve como diagnóstico fechado.

  • Falar de “paranoia” não significa rotular alguém como “louco” ou “sem solução”, mas reconhecer um padrão de pensamento e comportamento que merece cuidado.

  • Ao mesmo tempo, isso não deve ser romantizado: quando a desconfiança vira regra, o amor perde espaço, a paz vai embora e a relação passa a girar em torno do medo.

Nesta segunda parte, vamos olhar com calma para:

  • as raízes da paranoia (biológicas, psicológicas, relacionais e espirituais);

  • as experiências de vida que podem alimentar esse tipo de funcionamento;

  • e como tudo isso ajuda a entender por que, às vezes, uma simples dúvida se transforma num cenário interno de perseguição, medo e acusação.

O objetivo não é apontar culpados, mas abrir espaço para compreensão, responsabilidade e, principalmente, para a possibilidade de mudança.

De onde vem a paranoia?

Uma das primeiras coisas que precisamos entender é que paranoia no relacionamento não tem uma causa única e simples. Não é apenas “porque a pessoa foi traída” ou só “porque é insegura”. Em geral, há uma combinação de fatores: biológicos, psicológicos, sociais, espirituais e relacionais. Compreender essa combinação é fundamental Reduzir tudo a “é exagero” ou “é frescura” é ignorar a complexidade do sofrimento. Ao mesmo tempo, usar a própria história como justificativa para controlar o outro também não é saudável. O desafio é reconhecer o conjunto, responsabilizar-se pelo que é possível mudar e buscar ajuda para o que exige suporte profissional.

 

Fatores

Algumas pessoas têm uma vulnerabilidade biológica maior para desenvolver pensamentos e percepções paranoides, especialmente quando existe histórico familiar de transtornos psiquiátricos, como psicoses, transtorno bipolar ou episódios depressivos graves. O estresse crônico, a privação de sono, o uso de substâncias e períodos prolongados de ansiedade também afetam o cérebro, deixando o sistema nervoso em estado de alerta contínuo. Quando o organismo passa muito tempo em “modo sobrevivência”, o limiar para se sentir ameaçado fica muito baixo e qualquer ambiguidade é interpretada como ameaça, e a mente tende a construir leituras negativas dos acontecimentos.

Isso não significa que a pessoa “não tem culpa de nada” e que tudo é biológico.
Mas significa que, em alguns casos, cuidar do corpo e do funcionamento cerebral (com sono, alimentação, atividade física e, quando indicado, tratamento medicamentoso) também faz parte do cuidado com o relacionamento.

Outro fator é ansiedade ou a depressão. A mente que já está fragilizada por estas causas tende a interpretar o mundo com mais negatividade. Em fases de maior agitação (como em episódios maníacos ou hipomaníacos do transtorno bipolar), a confiança no próprio julgamento aumenta, e a pessoa pode se apegar ainda mais às ideias de perseguição, ciúme e traição. É por isso que, em alguns casos, a paranoia no relacionamento não melhora apenas com conversa.

A psicanálise ajuda a compreender a paranoia como uma forma de defesa frente a angústias profundas. São angústias muito difíceis de lidar, de suportar. Um dos mecanismos centrais é a projeção: conteúdos internos difíceis de reconhecer – como medo de perder, raiva, fantasia de abandonar ou até impulsos de trair – são deslocados para o outro. Em vez de admitir “tenho medo de ser rejeitado” ou “sinto ambivalência em relação ao relacionamento”, a pessoa passa a experimentar uma certeza interna de que o parceiro está fazendo algo. Essa certeza funciona como uma tentativa de organizar uma angústia que, sem isso, seria vivida como um caos interno.​

Exemplo:
     - “Não sou eu que estou confuso, é o outro que está escondendo algo.”
     - “Não sou eu que tenho pensamentos contraditórios, é o outro que quer me fazer mal.”

Isso trás uma sensação de certeza. É quase uma convicção interna de que o parceiro está enganando, traindo, tramando, mesmo quando as provas são frágeis ou inexistentes.

Freud, ao estudar o famoso caso Schreber, mostra como a mente reorganiza a realidade para dar um “sentido” àquilo que a pessoa não consegue elaborar internamente. Lacan aprofunda essa discussão, destacando a força da certeza delirante e a dificuldade de simbolizar certos conflitos, que acabam retornando na forma de perseguição.

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Ainda é preciso considerar os fatores sociais e relacionais: o contexto em que a pessoa vive, as histórias de violência, humilhação e exclusão, a cultura da desconfiança em que muitas famílias são formadas. Ambientes marcados por segredos, mentiras e traições normalizadas deixam a mensagem de que confiar é sempre arriscado, e esse ensinamento é carregado para a vida amorosa.

Por fim, há o fator espiritual. Este fator pode ser tanto uma causa como um efeito. Causa no sentido potencializador. Dentro da religião, se reconhece a existência do maligno e de influências espirituais que podem se aproveitar de feridas emocionais e conflitos para intensificar divisão, confusão, acusação e amplificar o medo. Isso não substitui a responsabilidade pessoal nem o cuidado clínico, mas nos lembra que, além dos fatores psíquicos e relacionais, há uma dimensão espiritual que merece ser levada a sério, com discernimento e acompanhamento clínico. 

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Histórias que deixam marcas

A paranoia no relacionamento está profundamente ligada à história de vida da pessoa. As experiências de vida, especialmente as vividas nos vínculos mais importantes, têm um papel decisivo na construção dessa forma de ver o mundo e os relacionamentos.

Tanto nos relacionamentos amorosos anteriores, como também no ambiente familiar da infância, muitos são marcados por traições, mentiras constantes, manipulação emocional, alguma forma de abuso, negligência ou um abandono repentino, tudo deixa um rastro de insegurança. A mente aprende, muitas vezes de forma dolorosa, que confiar pode resultar em sofrimento intenso. A mente pensa:


“Quando confiei, perdi. Então, para não perder de novo, preciso desconfiar o tempo todo.”

Quando alguém com esse histórico entra em um novo relacionamento, pode carregar, de forma inconsciente, a convicção de que a história irá se repetir. Em vez de elaborar o trauma e reconstruir gradualmente a confiança, a pessoa passa a viver permanentemente à espera do próximo golpe, como se o amor tivesse que passar por um interrogatório permanente para ser considerado verdadeiro.​​

A relação com as figuras parentais exerce um papel decisivo. É com elas que aprendemos, de forma profunda e muitas vezes inconsciente, se o mundo é seguro ou perigoso, se o outro é um apoio ou uma ameaça, se podemos confiar ou precisamos nos defender o tempo todo, se reagimos com amor ou ódio, se acolhemos ou humilhamos, entre outros valores que se enraízam.  As crianças que cresceram em famílias vendo traições, mentiras, segredos, vida dupla, controle exacerbado, ciúmes doentio, crises constantes, muita briga, gritos, agressões, problemas financeiros permanentes e outros cenários; na vida adulta, esse modelo tende a ser reproduzido, seja na posição de quem controla, seja na posição de quem aceita ser controlado por achar que isso é “normal”, muitas vezes por achar que “relacionamento é assim mesmo”. Além de afetar futuros relacionamentos externos, afeta-se também o relacionamento interno da pessoa. 

Experiências de abuso emocional, verbal, físico ou sexual, especialmente dentro da família ou em relacionamentos marcantes, têm um peso enorme na construção da paranoia. Ser constantemente humilhado, xingado, ridicularizado, ameaçado, manipulado, agredido, e invadido seu limite físico - seja com olhares maliciosos, toques indesejados ou penetrações - atingem diretamente a autoestima, embaralha o senso de valor pessoal e o senso de segurança, e faz com que o mundo pareça perigoso e instável Isso instala gatilhos na psiquê da pessoa. Cedo ou tarde, nos relacionamentos e interações futuras, eles são ativados. A pessoa passa a desconfiar tanto do próprio julgamento quanto das intenções alheias. Qualquer atitude ambígua pode ativar memórias inconscientes de situações traumáticas, levando a reações desproporcionais. No caso de abusos físicos isso toma uma proporção mais profunda. Geralmente a pessoa não consegue confiar nem em si mesma, nem em ninguém. A mente fica girando em torno de:

“Será que é verdade?”, “Será que não é só fachada antes de me machucar de novo?”, "Se eu descobrir tudo antes, talvez eu evite a dor.”

Só que, na prática, o que acontece é o contrário: a pessoa sofre o tempo todo, mesmo quando nada está acontecendo.

Há também os padrões que se repetem ao longo das gerações. Em muitas famílias, a fofoca, os segredos, as alianças ocultas e a desconfiança são quase um estilo de convivência. Frases como “ninguém presta”, “não conte nada a ninguém”, “se vacilar, vão passar por cima de você”, "todo homem trai", "mulher serve para ficar em casa e cozinhar", e outras frases, vão moldando uma mentalidade em que confiar é visto como fraqueza. São as famosas crenças limitante. Assim, a paranoia no relacionamento atual não é apenas um fenômeno individual, mas parte de uma herança relacional que precisa ser reconhecida e, pouco a pouco, transformada. Uma parte essencial do processo psicanalítico é justamente identificar esses legados familiares, perceber o quanto eles ainda comandam a forma de se relacionar e, pouco a pouco, construir um modo mais livre de amar.

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Quando o próprio relacionamento se torna gatilho

Embora a história de vida e a vulnerabilidade psíquica sejam importantes, o relacionamento atual também pode funcionar como um fator​ que alimenta ou agrava a paranoia. Em outras palavras, algumas atitudes dentro da própria relação acabam confirmando, na experiência da pessoa, que desconfiar é “necessário”. Não porque uma pessoa “nasceu assim”, e sim porque a forma como o casal se organiza reforça medos antigos e revive traumas mal elaborados.

Pequenas mentiras, omissões, flertes ou até comentários comuns com o sexo oposto em redes sociais, uso pouco transparente do celular, apagar mensagens, histórico de chamadas, etc; como também conceitos diferentes sobre o que é certo e errado, sobre transparência, sobre afeto, etc; abalam a confiança, mesmo quando não há um ato intencional ou uma traição formal. Hoje, boa parte da vida passa pela tela do celular: conversas, curtidas, directs, grupos, “visualizou e não respondeu” etc. Esse ambiente é fértil para conflitos.. Por mais que a pessoa "não paranoica" faça isso sem intenção de prejudicar ou com a intenção de proteger o parceiro para evitar uma briga, do ponto de vista de quem já tem tendência à paranoia, qualquer descoberta destas coisas confirma a ideia de que o outro vive escondendo coisas, virando prova de que não se pode relaxar. Assim, mesmo comportamentos considerados “menores” podem reforçar a convicção paranoica de que existe sempre algo grave por trás. Isso são gatilhos, como dito antes, que ao serem ativados, revivem o trauma mal elaborado do passado.

A comunicação confusa também contribui para esse cenário. Frases vagas, decisões tomadas sem explicação, mudanças bruscas de humor sem nomear o que está acontecendo, silêncios prolongados ou respostas secas, estes e outros detalhes, somados ao histórico de conflitos que estou trazendo aqui, alimentam a fantasia de que há sempre algo escondido, gerando lacunas que são preenchidas com as piores hipóteses.

Outro elemento importante e que tem crescido muito ultimamente, é a simbiose afetiva. Casais que vivem sem fronteiras claras, em que tudo precisa ser feito juntos, ou indivíduos que cobram constantemente isso, muitas vezes confundem dependência com amor. Tudo tem que ser conjunto, tudo tem que ser compartilhado, tudo tem que ser feito a dois. Em um primeiro momento isso parece sinal de amor intenso, mas, se não há espaço para a individualidade, nasce uma relação simbiótica. Não há espaço para filhos, para se relacionar com familiares, para conversar com um amigo ou colega, para momentos a sós, para hobbies individuais. Qualquer pedido de tempo ou qualquer atividade que não inclua o parceiro é visto como sinal de desinteresse ou de possível traição, rejeição, abandono. Quanto maior a fusão, maior o medo de perda; e, quanto maior o medo, mais forte a tentação de vigiar e controlar.  Seguindo uma das minhas bases na terapia de casal, o manual do relacionamento, que é a Bíblia, fala sobre “os dois se tornam uma só carne”, mas isso não significa que se torna uma só pessoa. A imagem da “uma só carne” fala de aliança, compromisso, intimidade profunda, mas não de anulação do “eu”. Outro ponto que para complementar é “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Aqui tem um "si mesmo" que não pode ser anulado, ele é preservado! Há um eu que é chamado a se cuidar, e a partir daí amar o outro. Relações em que um se dissolve no outro se afastam desse padrão, porque deixam de ter dois sujeitos que se encontram, e passam a ter uma fusão em que ninguém consegue existir com clareza. Pra finalizar, o amor “não se porta inconvenientemente”, “não busca os seus próprios interesses” e “não se alegra com a injustiça”. Isso está em 1Coríntios e vale tanto para o egoísmo individual quanto para a forma de amar que sufoca o outro em nome do “nós”. Quando o relacionamento exige que a pessoa abandone tudo o que é, todos os vínculos saudáveis e qualquer expressão de singularidade para provar amor ao outro, já não estamos falando de unidade, mas de idolatria relacional, onde o parceiro ocupa um lugar de absoluto que, biblicamente, pertence apenas a Deus... mas isso é um outro assunto que não será aprofundado aqui neste espaço. O que precisa ficar de entendimento aqui é que o parceiro não pode deixar de ser seu parceiro, seu companheiro e virar fonte exclusiva de segurança, valor e sentido.

Com o tempo, a própria dinâmica do casal passa a funcionar como um sistema em que um assume o lugar de acusador e o outro o de acusado. Isso é uma característica chave do delírio persecutório na relação. O acusado se defende, tende a começar a omitir, esconder para evitar novas discussões; o acusador intensifica a vigilância, pois percebe que existem coisas que não são ditas. O relacionamento deixa de ser um lugar de acolhimento e torna-se um ambiente de tensão contínua. Ambos sofrem. Ninguém se sente em casa. É como se o relacionamento deixasse de ser um lugar de descanso e se tornasse um tribunal em funcionamento permanente para um lado e um campo de guerra para o outro.

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Sinais da paranoia no cotidiano do casal

Muitas pessoas percebem que algo está errado no relacionamento, mas não conseguem nomear. Outras normalizam comportamentos extremamente desgastantes, chamando isso de “cuidado”, “amor” ou “zelo”. Agora, vamos aprofundar alguns sinais e mostrar como eles costumam se combinar na prática. Lembrando: um sinal isolado não define um quadro, mas a repetição e a intensidade merecem atenção.

Um dos sinais mais evidentes é o ciúme excessivo. Não se trata apenas de um desconforto pontual diante de situações específicas, mas de um padrão em que quase tudo vira motivo de desconfiança: uma curtida em rede social, um contato antigo que reaparece, uma mudança de foto de perfil, um colega de trabalho mencionado com frequência. A mente passa a funcionar como um filtro seletivo, destacando qualquer detalhe que possa sustentar a ideia de traição ou desinteresse.

Junto com o ciúme exagerado, surge o monitoramento constante. É comum que a pessoa passe a vigiar horários, histórico de chamadas, conversas, localização, contatos, quem curtiu ou comentou publicações, com quem o parceiro sentou, quem estava na festa, quem apareceu no vídeo. Esse monitoramento pode ser aberto, com a exigência direta de senhas e acesso a tudo, ou escondido, em segredo, com o paranoico passando horas vasculhando elementos “suspeitos” que expliquem a inquietação interna. Isso funciona quase como um vício: a pessoa sente ansiedade, vasculha para tentar se acalmar, encontra algo que interpreta como ameaça, a ansiedade aumenta, e o ciclo recomeça.

Outro aspecto típico é a sensação permanente de alerta. O sujeito vive como se estivesse em uma espécie de plantão emocional: atento a qualquer mudança no tom de voz, na forma de responder, na frequência das mensagens, na expressão do rosto. Pequenas oscilações normais do convívio são interpretadas como sinais de algo grave. Um dia mais silencioso do parceiro, por cansaço ou preocupação com outro tema, pode ser lido como rejeição ou indiferença.

Do ponto de vista psicanalítico, isso está ligado à projeção e à leitura distorcida da realidade. O que incomoda por dentro é deslocado para fora, e o outro passa a ser visto como foco da ameaça. Conversas neutras são interpretadas com sentido negativo, frases são recortadas do contexto, acontecimentos triviais ganham status de “provas”. Surge uma espécie de roteiro interno já pronto: “se ele fez isso, então é porque também fez aquilo; se ela não me contou tal coisa, é porque existe algo ainda pior”.

À medida que essa dinâmica se intensifica, entram em cena atitudes de chantagem emocional e tentativas de controle. O amor passa a ser medido por provas de submissão: “se me ama, vai apagar esse amigo”, “se me ama, não precisa sair sem mim”, “se me ama, não tem motivo para ter senha”, e assim por diante. Em vez de acordos maduros, constroem-se cobranças que colocam o parceiro numa posição infantilizada, sempre tendo que provar inocência para não ser punido.

Com o tempo, a própria convivência social do casal se altera. Atividades simples – ir a uma festa, estar com amigos, visitar família – tornam-se terreno de discussões. Para evitar brigas, o parceiro começa a abrir mão de vínculos, encontros e projetos. Em vez de ampliar a vida, o relacionamento vai se fechando sobre si mesmo, favorecendo o isolamento. O que começou como medo de perder o outro termina, muitas vezes, em perda de liberdade, de leveza e de contato com pessoas significativas.

As consequências internas de quem vive tomado pela desconfiança

Costuma-se olhar muito para o desgaste do parceiro que é alvo da desconfiança, mas é importante reconhecer que quem sente a paranoia por dentro também sofre profundamente. Não é apenas alguém “difícil de lidar”, e sim alguém que, na maior parte do tempo, está em estado de sofrimento psíquico intenso.

Uma das principais consequências é a insegurança crônica. A pessoa não consegue acreditar plenamente que é amada, valorizada ou escolhida. Mesmo quando o parceiro demonstra cuidado e constância, uma voz interna insiste em perguntar: “até quando?”, “será que é sincero?”, “o que ele estaria fazendo se eu não estivesse aqui?”. Essa dúvida permanente corrói a autoestima e impede que o amor seja vivido com descanso.

Essa insegurança vem acompanhada de ansiedade elevada. A mente gira em torno de cenários possíveis de traição, abandono e humilhação, como já dito aqui antes. A pessoa pode passar horas pensando, voltando na mesma questão, reinterpretando gestos e revendo conversas, numa espécie de obsessão silenciosa.

É nesse contexto que o corpo começa a cobrar o preço. Sono agitado, dificuldade para dormir, despertares noturnos com pensamentos acelerados, dores de cabeça, aperto no peito, taquicardia, falta de ar, desconforto gástrico, tensão muscular, queda de imunidade – tudo isso pode aparecer como reflexo de um organismo que vive em modo de alerta. Não raro, esses sintomas levam à busca por medicações, álcool ou outras substâncias como tentativa de amenizar a angústia. A pessoa pode se enxergar como alguém que crê, mas não consegue descansar, que ora, mas continua dominado pelo medo, que pede paz, mas se vê dominado por fantasias de perseguição. É importante lembrar que a graça não se destina apenas a “perdão moral”, mas também a consolo para quem sofre psiquicamente. Filipenses 4 fala da paz que guarda mente e coração, mas essa paz muitas vezes é construída num processo, em diálogo com o cuidado clínico e com a verdade encarada com humildade.

Na clínica, o trabalho passa por ajudar essa pessoa a reconhecer o próprio sofrimento, sair do lugar exclusivamente acusador e entrar em contato com sua vulnerabilidade. Isso não anula a responsabilidade sobre o que faz, mas permite que ela se veja também como alguém ferido que precisa de cuidado, e não apenas como alguém “forte” que vigia para não ser enganado.

As consequências para o parceiro e para o vínculo amoroso

 

Se a paranoia machuca profundamente quem sente, também provoca um impacto intenso em quem está do outro lado, convivendo com o clima de desconfiança permanente. Aos poucos, esse parceiro passa a viver como se estivesse em um tribunal funcional, onde qualquer gesto, palavra ou decisão pode virar motivo de acusação. Uma das primeiras experiências é a sensação de estar sempre sob suspeita. A pessoa precisa explicar onde estava, por que demorou, com quem falou, por que não respondeu na mesma hora. Situações corriqueiras, que em outros contextos seriam resolvidas em segundos, tornam-se justificativas longas, detalhadas, em que o sujeito tenta provar que não fez nada de errado. Com o tempo, isso gera desgaste emocional, sensação de injustiça e cansaço.

Diante dessa tensão constante, muitos começam a desenvolver mecanismos de autocensura. Para evitar discussões, deixam de comentar certos encontros, omitem detalhes de conversas, evitam falar de determinados amigos ou ambientes que podem levar a crises de ciúme. Em um primeiro momento, isso pode ser visto como uma tentativa de “preservar a paz”, mas na prática vai reduzindo a autenticidade da relação. O parceiro passa a mostrar apenas uma parte de si, com medo das reações do outro. É nesse contexto que surgem as chamadas mentiras defensivas. Não necessariamente ligadas a traição, mas a tentativas de evitar conflitos: apagar uma conversa inofensiva, não contar que encontrou alguém conhecido, ocultar uma situação que poderia gerar ciúme mesmo sem ter conotação afetiva. Embora essas omissões sejam problemáticas, é importante entender que frequentemente são respostas à experiência de viver pressionado. Infelizmente, quando descobertas, acabam reforçando ainda mais as crenças paranoicas e alimentando o ciclo de acusação.

A intimidade emocional e sexual também sofre. Quando o clima da relação é dominado por desconfiança, julgamentos e controle, o espaço para vulnerabilidade, carinho e entrega se reduz. Conversas profundas ficam raras, porque qualquer informação pode ser usada depois como munição. A sexualidade tende a esfriar, seja por tensão, mágoas acumuladas, vergonha, ou porque o contato físico passa a carregar a lembrança de brigas e acusações. Em vez de ser lugar de encontro, o relacionamento passa a ser vivido como campo minado emocional: o parceiro nunca sabe exatamente onde pisar sem provocar explosões.

Com o passar do tempo, é comum que surjam sentimentos de ressentimento e esgotamento. Frases internas como “não importa o que eu faça, nunca é suficiente” ou “estou pagando por erros que não cometi” aparecem com frequência. A pessoa pode até continuar na relação por amor, por compromisso, por fé ou por questões familiares, mas já não se sente inteira ali. Em outros casos, surge o desejo de terminar, não por falta de afeto, mas pela percepção de que continuar nesse padrão está adoecendo ambas as partes.

 

preservar o relacionamento não pode significar aceitar qualquer forma de destruição emocional. A Bíblia fala de perdão, pacificação, reconciliação, mas não autoriza que o relacionamento se torne instrumento de opressão contínua. Cuidar do vínculo implica também reconhecer quando o modo de se relacionar está adoecendo os dois, e buscar ajuda para reorganizar esse caminho. Na prática, isso pode significar: conversas transparentes sobre limites, busca por terapia de casal, processos individuais de análise, revisão de comportamentos que alimentam a desconfiança, e, em situações mais graves, decisões mais firmes de proteção. A fé, quando bem colocada, não serve para prender pessoas em relacionamentos adoecidos, mas para fortalecer discernimento, coragem, humildade e responsabilidade – consigo mesmo, com o outro e com Deus.

Quando a mente não vive o presente

Uma das marcas mais dolorosas da paranoia no relacionamento é a dificuldade de permanecer no presente. A cabeça fica dividida entre aquilo que já aconteceu e aquilo que ainda nem aconteceu, mas é imaginado em detalhes. O agora – que é o tempo real do encontro, da conversa, do gesto de carinho – vai ficando estreito.

Muitos pacientes relatam que não conseguem “encerrar” determinados episódios. Uma conversa antiga, uma mensagem mal explicada, uma saída suspeita, uma traição real ou apenas suposta volta constantemente à memória. Mesmo depois de pedidos de perdão, esclarecimentos ou decisões de seguir em frente, o tema retorna, às vezes com a mesma intensidade da primeira vez. O passado deixa de ser algo que ficou para trás e passa a funcionar como se estivesse acontecendo de novo todos os dias. Do ponto de vista psíquico, isso mostra que aquela experiência não foi simbolizada. Não virou história elaborada – virou ferida aberta. Cada nova situação que lembra, mesmo de longe, aquele fato é vivida como repetição, não como algo novo. Então um atraso hoje aciona a mesma dor de um abandono antigo, um silêncio atual ativa a recordação de uma antiga desvalorização. A mente reage mais à memória do que ao evento concreto.

Ao mesmo tempo, o futuro é antecipado com forte carga negativa. A imaginação constrói cenas de traição, de desprezo, de ridicularização, como se fossem quase inevitáveis: “Uma hora ele vai enjoar de mim”, “Uma hora ela vai encontrar alguém melhor”. O medo deixa de ser um alerta saudável e passa a ser um cenário permanente, onde tudo tende a terminar mal. A pessoa tenta se preparar para não ser pega de surpresa, mas na prática sofre por situações que ainda nem aconteceram. Entre o que já passou e o que pode acontecer, o presente se esvazia. Jantares, passeios, momentos de descanso, conversas simples vão sendo contaminados por perguntas e suspeitas. Em vez de aproveitar a experiência, a pessoa observa cada detalhe em busca de sinais. O que poderia ser lembrado como um tempo bom se torna mais um registro de “verificações” e discussões.

Iso toca diretamente o tema da confiança. Passagens bíblicas falam da importância de lembrar o que Deus já fez, mas também chamam a viver o “hoje” com fé, sem se aprisionar em ofensas antigas nem se entregar a fantasias de desgraça antecipada. Quando o coração está dominado por mágoa e medo, é comum que a pessoa ore, mas continue refém das mesmas imagens internas. Parte do processo de cura passa por reconhecer esse aprisionamento e, aos poucos, permitir que o passado seja trabalhado – em oração e em terapia – até que deixe de comandar as reações do presente.

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Fatores agravantes

Há fatores que não criam a paranoia, mas ampliam muito sua intensidade. Entre eles, o uso de substâncias psicoativas e determinados comportamentos de fuga ocupam um lugar importante.

Quando a mente já está fragilizada por ansiedade, depressão, traumas ou oscilação de humor, o organismo tende a ficar mais reativo. Noites mal dormidas, excesso de trabalho, falta de rotina, alimentação desregulada e ausência de descanso profundam esse desgaste. A pessoa passa a ter menos recursos internos para lidar com frustrações e ambiguidades, e interpretações negativas surgem com mais facilidade. É nesse contexto que muitos recorrem ao álcool, a calmantes ou a outras drogas como tentativa de aliviar a angústia. Isso pode parecer um facilitador, dar uma sensação momentânea de força ou anestesia, relaxar, como também gerar euforia, sensação de poder, coragem para confrontar, etc. O problema é o que vem depois. Passado o efeito, o que permanece costuma ser mais irritabilidade, cansaço, desorganização emocional, lapsos de memória e dificuldade maior de avaliar as situações com clareza. Em muitos casos, decisões impulsivas são tomadas sob efeito da substância: acusações graves, perseguições, ligações em série, aparições não combinadas, exposição em redes sociais, ameaças, agressões verbais e, às vezes, físicas. A pessoa pode até, mais tarde, se arrepender, mas o estrago já foi feito.

a combinação entre ciúme intenso, pensamentos persecutórios e uso de substâncias aumenta muito o risco de situações de violência. Não é apenas um problema de casal; torna-se também uma questão de saúde mental e, em alguns casos, de segurança. Quando há repetição de episódios agressivos, ameaças de dano a si ou ao outro, períodos de comportamento muito desconectado da realidade, uso frequente de álcool ou drogas em meio às brigas, a busca de ajuda profissional deixa de ser opção e se torna necessidade. Não basta rotular tudo como “fraqueza espiritual” nem tampouco alegar que “Deus vai resolver” enquanto se mantém um padrão que expõe todos ao risco. Isso exige um olhar mais realista

Quando a paranoia rompe laços

A paranoia não afeta apenas a relação a dois; ela tende a se espalhar pelos demais vínculos e a reorganizar a vida social do casal. O que começou como desconfiança dirigida principalmente ao parceiro vai, aos poucos, se dirigindo também a quem o cerca. É comum que amigos e familiares passem a ser vistos como ameaça. Comentários bem-intencionados são interpretados como “veneno”, conselhos são lidos como tentativa de separação, convites são entendidos como competição com o relacionamento. A pessoa paranoica pode afirmar com convicção que a sogra, a mãe, a irmã, os colegas de trabalho, os irmãos da igreja “não querem ver o casal bem”, mesmo quando não há elementos objetivos que sustentem isso.

Diante desse cenário, surgem pressões explícitas ou veladas para que o parceiro se afaste de pessoas importantes da sua história. Amizades antigas começam a ser abandonadas, encontros em família são evitados, atividades na igreja ou em outros grupos vão sendo deixadas de lado. A justificativa quase sempre vem travestida de amor: “se você me ama, não precisa de mais ninguém”, “se essas pessoas te fazem bem, por que eu me sinto tão mal quando você está com elas?”.

O resultado é um movimento de isolamento progressivo. O casal acredita que, reduzindo as “interferências”, terá finalmente paz. Mas o que acontece é o contrário: quanto menos vínculos externos existem, mais concentrada fica a carga emocional dentro da relação. Problemas que antes poderiam ser relativizados em meio a uma vida mais ampla ganham proporções gigantes. Tudo passa a girar em torno das mesmas angústias, e a relação se torna sufocante para ambos.

Quando há filhos, o impacto é ainda mais delicado. Crianças e adolescentes muitas vezes presenciam discussões carregadas de acusações, choros, portas batendo, ameaças e controles. Algumas são colocadas em papéis que não deveriam ocupar, como “espiões”, mediadores ou confidentes de um dos pais contra o outro. Com isso, vão aprendendo, na prática, que o amor é algo perigoso, que exige vigilância e produz brigas constantes. Essas experiências podem deixar marcas profundas: medo de se vincular, dificuldade de confiar, tendência a reproduzir padrões de desconfiança ou, ao contrário, a se submeter a relações abusivas por acharem que não merecem nada melhor. A forma como os pais lidam com seus conflitos se torna, mesmo sem intenção, uma espécie de modelo interno para a forma como os filhos irão se relacionar no futuro.

Do ponto de vista religioso, isso remete à responsabilidade que pais e mães têm diante de Deus quanto ao ambiente emocional que oferecem em casa. O casamento não precisa ser perfeito — e nunca será, mas precisa, tanto quanto possível, ser um espaço em que a verdade, o arrependimento, o perdão e os limites saudáveis possam aparecer. Quando a paranoia domina e rompe laços, o chamado não é à culpa paralisante, e sim à consciência: perceber o tamanho do impacto, pedir ajuda e começar um caminho de reorganização que proteja também aqueles que estão crescendo sob esse clima.

Conhecer a história para compreender o sintoma

Não olhar apenas para o comportamento atual e esquecer que ele foi sendo construído ao longo de anos. A pessoa que hoje controla, acusa, vigia e se desespera raramente começou assim. Como já falamos aqui, há, por trás desse funcionamento, uma trajetória marcada por frustrações, medos, perdas e formas específicas de lidar com a dor. Já trouxe vários exemplos de experiências que deixam marcas, Nada disso justifica atitudes abusivas, mas ajuda a compreender por que certas reações parecem tão intensas, desproporcionais e insistentes.

A história também inclui a forma como a pessoa aprendeu a lidar com os próprios sentimentos. Em famílias em que choro, tristeza, medo e vulnerabilidade eram reprimidos, o caminho encontrado muitas vezes foi endurecer, controlar, “se armar” emocionalmente. Em vez de dizer “eu tenho medo de ser abandonado” ou "tal situação tem me deixado muito machucado", a pessoa passa a agir como se fosse o “detector de ameaças”, sempre pronto a apontar o erro do outro. Quando é criança e isso se torna mais claro aos pais, ainda é duramente corrigido (que é o certo), mas não é compreendido. Essa correção sem compreensão abrirá portas para mais consequências psíquicas. Essa dureza externa esconde uma fragilidade interna que raramente é reconhecida.

Deus não ignora a história de ninguém. A Bíblia está cheia de relatos de pessoas marcadas por rejeição, injustiça, exclusão e culpa, que foram sendo trabalhadas ao longo do tempo. Davi, por exemplo, viveu conflitos familiares intensos, traições e perseguições, e muitas de suas orações expressam medo, sensação de ameaça e desejo de proteção. Ao mesmo tempo, ele colocava essas angústias diante de Deus, não apenas diante das pessoas. Levar em conta a própria história, com sinceridade, é um passo fundamental tanto na clínica quanto na fé. Conhecer a própria trajetória não significa usar o passado como desculpa para perpetuar comportamentos destrutivos, nem minimizar o sofrimento de quem convive com a paranoia. Significa reconhecer que existe um caminho percorrido até aqui e que, se nada for elaborado, a tendência é repetir as mesmas respostas em relacionamentos diferentes. Quando a pessoa assume: “eu estou assim hoje por causa de tudo o que já vivi, mas não quero ficar presa a isso”, abre-se uma possibilidade real de transformação.

Caminhos de cuidado

Chega um momento em que não dá mais para chamar de “cuidado” o que já se tornou vigilância, controle e sofrimento diário. Quando a paranoia já está instalada no relacionamento, é necessário pensar em formas concretas de cuidado. Cuidado com quem sente, com quem convive e com o próprio vínculo. 

Um primeiro passo é nomear o problema. Enquanto tudo for reduzido a “ciúmezinho”, “temperamento forte” ou “é o jeito dele/dela”, a gravidade da situação não é encarada. Conversas sinceras, em momentos de menor tensão, podem ser o início de uma nova etapa. Não se trata de apontar o dedo, mas de relatar o impacto:

  • como é viver sob suspeita constante;

  • como é sentir medo de falar, de sair, de existir;

  • como é perceber que a desconfiança consome as forças de quem sente e de quem recebe.

 

Ao mesmo tempo, é importante estabelecer limites claros. Amar não significa aceitar qualquer tipo de invasão, insulto ou agressão. É legítimo dizer “não” a leituras de celular escondidas, a perseguições, a ameaças, a humilhações e a formas de controle que ferem a dignidade. Esses limites não são falta de amor; são condição mínima para que qualquer amor possa permanecer de pé.

 

Em muitos casos ter esse diálogo é uma guerra que dura dias, semanas ou meses. Um clima de fumaça paira sobre o ambiente. Muitos evitam por isso, porém é preciso confrontar para resolver. Recomendo a ajuda psicanalítica, pois é essencial um intermediador. Em casos de paranoia recomendo tanto a terapia individual como a de casal. A terapia individual ajuda a pessoa que sofre com a paranoia a compreender suas origens, seus gatilhos, suas fantasias e a história de dor que está por trás da necessidade de vigiar. Já a terapia de casal cria um espaço protegido para que os dois possam falar, ouvir, ajustar acordos e reconstruir, se ainda houver base, uma convivência mais saudável. Quando existem sinais de transtornos psiquiátricos mais graves, o acompanhamento psiquiátrico também é importante, inclusive para avaliar a necessidade de medicação.

Referências bibliográficas:
- A bíblia sagrada; Verywell Mind ; Psychology TodayBetterHelp ; REUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia (Dementia paranoides) descrito autobiograficamente (Caso Schreber), 1911 ; FREUD, Sigmund. Neurose e psicose, 1924 ; LACAN, Jacques. O seminário, livro 3: As psicoses ; KAPLAN, Harold; SADOCK, Benjamin. Compêndio de Psiquiatria – Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica .

escrito por Aías Tavares.

Olhe para dentro,
para as profundezas.
Aprenda primeiro
a se conhecer.

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