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" Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." - Mateus 6:34

escrito por Aías Tavares

Os 5 Pilares para o Perdão

25/09/2024

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O perdão é um dos desafios mais profundos que realizamos ao logo de nossas vidas. É um processo essencial para nossa saúde mental e para nossos relacionamentos interpessoais. Embora muitas vezes seja visto como um gesto voltado para o outro, a verdade é que perdoar envolve uma transformação interna poderosa. Quando guardamos mágoas, ressentimentos ou raiva, essas emoções não afetam apenas nossos relacionamentos, mas também nossa saúde emocional, mental e espiritual. O perdão não é sobre esquecer o que nos feriu ou justificar a ofensa, mas ao escolhermos perdoar, fazemos uma escolha consciente de nos libertar e/ou libertar o outro da dor de um pesado fardo que essas feridas carregam.

Ao longo deste texto, vamos explorar os cinco pilares essenciais para o perdão, cada um deles ampliando a compreensão sobre como perdoar é um processo que envolve cura, entendimento e crescimento. Esses pilares nos mostrará caminhos que nos levam a reconhecer nossas dores, compreender a falibilidade humana, e nos conectar com o amor divino para alcançar a verdadeira paz interior. O perdão é o caminho para viver de forma plena e liberta.

1. Aprender o que é perdão

O perdão como ferramenta de libertação

O primeiro ponto a entender é que o perdão é uma ferramenta de libertação – emocional e espiritual. Guardar ressentimentos, mágoas e raiva nos aprisiona em um ciclo de dor, alimentando emoções negativas que podem dominar nossos pensamentos e comportamentos. Ao perdoar, escolhemos liberar essa carga emocional que nos pesa e encontrar paz interior. O perdão, portanto, é um caminho para o alívio, não apenas em relação ao outro, mas principalmente para nós mesmos.

Perdoar não significa negar a dor ou minimizar a ofensa sofrida. Pelo contrário, significa reconhecer plenamente a ofensa, a mágoa e a dor, mas escolher seguir em frente, sem deixar que essas feridas continuem controlando nossa vida emocional.

Perdoar é um ato de grande coragem, pois exige olhar para dentro de si e admitir que, apesar da dor, você deseja libertar-se dela. Esse processo de libertação nos reconcilia com nós mesmos, e nos permite reescrever nossa narrativa pessoal, em vez de ser refém de eventos passados.

Perdoar é uma escolha, não uma troca

O perdão é concedido livremente, sem esperar nada em troca. Este é um dos aspectos mais desafiadores para muitas pessoas, porque existe uma tendência natural de esperarmos que o outro "mereça" nosso perdão, ou que o ato de perdoar resulte em uma mudança visível no comportamento de quem nos ofendeu. No entanto, o verdadeiro perdão não coloca condições. Ele é um ato de vontade, uma decisão de abrir mão do ressentimento, sem exigir recompensas ou reivindicações.

Ao entender que o perdão não é uma moeda de troca, damos um passo importante em direção à libertação completa. Isso significa que, ao perdoar, não devemos esperar desculpas ou compensações, pois o ato de perdoar já é, por si só, a resolução interna necessária.

Perdoar a si mesmo: o primeiro passo para perdoar o outro

Outro ponto crucial é que o perdão não é dado apenas para o outro, mas também para nós mesmos. Muitas vezes, carregamos culpa e autocondenação por erros do passado, e essa falta de perdão em relação a nós mesmos pode nos impedir de perdoar os outros. Se não conseguimos nos perdoar, tendemos a julgar o outro de forma mais severa, projetando sobre eles nossas próprias falhas e expectativas.

Quando aprendemos a perdoar nossas próprias falhas e fraquezas, somos mais capazes de enxergar o outro com empatia e compreensão. Esse processo de autoperdão não é um ato de complacência ou de ignorar nossas responsabilidades, mas de aceitar nossa humanidade e nossa capacidade de errar.

Perdoar a si mesmo é um passo crucial para quebrar o padrão de autopunição e ressentimento, e abre o caminho para perdoar os outros de forma genuína e libertadora. Quando nos perdoamos, nos libertamos do peso da culpa e da autocrítica, o que nos permite avançar com mais leveza e propósito.

O perdão como ato de amor

O perdão é amor. Amar é não contabilizar erros. Essa frase é poderosa porque reflete a natureza incondicional do amor verdadeiro. O perdão não se trata de acumular erros e falhas para depois usá-los como uma forma de poder ou controle sobre o outro. Pelo contrário, o amor perdoa continuamente, assim como ensinado em 1 Coríntios 13:5, onde se diz que o amor "não guarda rancor".

O perdão genuíno só pode florescer onde existe amor próprio. Quando nos amamos e respeitamos verdadeiramente, entendemos que carregar o fardo da mágoa nos impede de viver plenamente. Amar a si mesmo inclui a decisão de não deixar que a amargura domine nossos pensamentos e emoções. Esse amor próprio nos protege contra o ressentimento prolongado, porque sabemos que merecemos paz interior. O perdão, nesse sentido, não é apenas um presente para o outro, mas também um presente que damos a nós mesmos, pois nos liberta das correntes emocionais que nos prendem ao passado.

O perdão não é esquecer, mas não viver relembrando

Um equívoco comum é pensar que perdoar significa esquecer a ofensa. No entanto, o perdão não é uma questão de apagar da memória o que aconteceu. Em vez disso, é uma escolha de não permitir que o passado defina nosso presente. Perdoar é não viver relembrando constantemente o que nos feriu. Isso significa que, mesmo lembrando a ofensa, optamos por não nutrir o ressentimento que ela causou. Viver relembrando a mágoa só nos prende em mais dor e sofrimento. O perdão nos convida a deixar o passado onde ele pertence e focar no presente, sem as amarras emocionais que nos impedem de avançar. Isso não significa que ignoramos ou justificamos o que nos feriu, mas que decidimos não deixar que isso continue a nos machucar.

O bem-estar emocional através do perdão

Por fim, o perdão faz bem para mim e para o outro, aliviando tanto a mente quanto o coração. A mágoa e o ressentimento prolongados podem ter impactos devastadores em nossa saúde emocional e física. Estudos mostram que o acúmulo de emoções negativas pode contribuir para condições como estresse, depressão e ansiedade.

Quando perdoamos, criamos espaço para emoções positivas, como paz, tranquilidade e bem-estar. O alívio que sentimos ao deixar para trás o peso da mágoa pode ser transformador, tanto em termos emocionais quanto espirituais.

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2. Reconhecer a Dor


O segundo pilar para alcançar o perdão é reconhecer a dor. Reconhecer a dor que você sente não é um sinal de fraqueza, mas de força. É um ato de autocuidado. Quando você admite a mágoa que sente, está dizendo a si mesmo que sua dor importa, que você tem o direito de sentir e processar essas emoções. Muitas vezes, o processo de perdão é bloqueado pela negação ou repressão das emoções relacionadas ao que nos feriu. Então, admitir que fomos machucados é essencial para dar início à jornada do perdão. O perdão não começa com o ato de esquecer ou aliviar o outro, mas sim com o reconhecimento de que existe uma dor que precisa ser abordada.

Admitir a Ferida: O Primeiro Passo

Antes de perdoar, é necessário admitir para si mesmo que você foi ferido ou, em alguns casos, que você feriu outra pessoa. Esse é um passo fundamental, pois muitos tentam minimizar suas dores, acreditando que ignorá-las fará com que desapareçam. Na realidade, o que não é reconhecido se transforma em ressentimento, que se acumula em nosso emocional, impactando nossa saúde mental e até física. O perdão verdadeiro só pode começar quando admitimos a dor que sentimos.

Esse reconhecimento é o ponto de partida tanto para o perdão do outro quanto para o autoperdão. Em ambas as situações, olhar para si mesmo é essencial, pois o perdão não é algo externo – ele começa dentro de nós. Quando nos permitimos encarar a verdade, mesmo que seja desconfortável, estamos nos posicionando para iniciar um processo de cura. Seja você o ofendido ou o ofensor, o primeiro passo é sempre olhar para dentro e reconhecer o impacto emocional do que aconteceu.

Reconhecer e Vivenciar as Emoções

 

Ao admitir a dor, é importante também reconhecer e vivenciar as emoções que ela desperta. Muitas pessoas reprimem ou negam seus sentimentos para evitar o desconforto de confrontar a mágoa, mas isso apenas prolonga o sofrimento. É preciso reconhecer a dor e o ressentimento, sem negá-los ou reprimi-los. As emoções negativas que surgem após uma ofensa são como frutos de uma árvore – ignorar sua existência não as faz desaparecer. São sinais de que algo dentro de nós precisa de atenção e cura.

Entender o que se sente é um processo de permitir que as emoções fluam, mesmo que dolorosas, para que possam ser processadas de maneira saudável. Quando você permite que essas emoções sejam expressas, você começa a ver os galhos dessa árvore, os aspectos mais profundos do sofrimento que podem estar escondidos. Isso pode envolver o medo, o abandono, a traição ou qualquer outra emoção que esteja na raiz do ressentimento.

Identificar os Conflitos e Realizar uma Catarse

Ao vivenciar as emoções, é essencial identificar os conflitos internos que as geraram. Esses conflitos são muitas vezes mais complexos do que aparentam e podem estar profundamente enraizados em experiências passadas, inseguranças e traumas. Identificar os conflitos que geraram a raiva, a mágoa ou outras feridas é um processo de trazer essas questões à tona para que possam ser examinadas e compreendidas.

Esse processo de autoexame profundo é uma espécie de catarse emocional, que envolve interrogar a si mesmo sobre os eventos e sentimentos que causaram a dor. Pergunte-se: "Por que isso me machucou tanto?" ou "Que aspectos da minha vida ou das minhas expectativas foram feridos por essa ofensa?" Ao fazer essas perguntas e refletir sobre as respostas, você está explorando as ramificações dessa árvore emocional. Essas ramificações são os impactos que a dor teve em sua vida, nos seus relacionamentos e na maneira como você se enxerga e enxerga o outro.

O Perdão é uma Decisão, Não um Sentimento

Finalmente, é importante entender que o perdão é uma decisão, e não um sentimento. Muitas pessoas acreditam que só podem perdoar quando "sentirem" que estão prontas para isso, mas esperar pelo sentimento de perdão pode ser um processo interminável. O perdão não é algo que surge naturalmente, mas sim uma escolha consciente de deixar ir o ressentimento. Mesmo que o sentimento de mágoa ainda esteja presente, a decisão de perdoar pode ser tomada.

Como já dito antes, perdoar não significa que a dor desaparece magicamente ou que as emoções negativas se dissipam instantaneamente. Pelo contrário, pode ser um processo longo e gradual. No entanto, ao decidir perdoar, você começa a tomar as rédeas do seu bem-estar emocional, em vez de deixar que o ressentimento e a mágoa o controlem. Essa decisão de perdoar é o primeiro passo para a cura, mesmo que as emoções não acompanhem imediatamente.

3. Compreender a Si Mesmo e ao Outro

O terceiro pilar do perdão gira em torno da compreensão, tanto de si mesmo quanto do outro. O perdão, além de ser um ato de libertação, é também um ato profundo de autoconhecimento e empatia. Para que o perdão seja genuíno, é necessário reconhecer que somos todos falhos, vulneráveis e imperfeitos. Essa compreensão ajuda a desarmar o ressentimento e a abrir espaço para a compaixão, tanto em relação ao outro quanto em relação a nós mesmos.

Reconhecer a Vulnerabilidade Humana

O primeiro passo para a compreensão é aceitar que todos somos falhos. Tanto você quanto a pessoa que lhe causou dor são seres humanos, propensos a erros, fraquezas e falhas. Nossas ações, ou as dos outros, não definem totalmente quem somos. Através do perdão, nos damos a oportunidade de enxergar além do erro e ver a pessoa em sua complexidade.

Quando percebemos que as feridas que carregamos estão muitas vezes ligadas às nossas próprias vulnerabilidades e inseguranças, podemos começar a ver o perdão como um ato de autoconhecimento. Ao invés de nos prendermos ao ressentimento, podemos usar a experiência dolorosa como uma oportunidade para aprender mais sobre nós mesmos. Por que isso me feriu tanto? O que em mim foi tocado por essa situação? Qual foi meu erro nessa situação? Essas perguntas são fundamentais para entender as raízes da mágoa e começar a transformar essa dor.

Perdoar é ressignificar o evento. Significa que, embora a mágoa tenha sido real e dolorosa, você escolhe não permitir que ela continue moldando sua vida. A dor não precisa ser o centro da sua identidade. O perdão nos permite  desapegar da narrativa de vítima e nos empoderar como pessoas que superam as adversidades.

Ressignificar o Acontecimento e Liberar a Dor

 

Quando perdoamos, ressignificamos o acontecimento doloroso, entendendo que, embora o que aconteceu seja parte da nossa história, ele não define quem somos ou quem o outro é. Essa ressignificação é um processo de cura em que deixamos de ver o evento como algo que nos aprisiona e passamos a enxergá-lo como uma oportunidade de crescimento e aprendizado.

É importante lembrar que, quando somos incapazes de perdoar, mantemos uma ligação emocional com a ferida. O ressentimento nos amarra ao passado e limita nosso futuro. Perdoar é cortar essa ligação, liberando-nos para viver de maneira mais plena. Quando optamos por não perdoar, a dor continua a moldar nossas emoções, nossos pensamentos e até mesmo nossa saúde mental e física, como já dito anteriormente.

A psicanálise nos ensina que essas feridas emocionais não resolvidas podem se manifestar em padrões inconscientes de comportamento. Muitas vezes, a incapacidade de perdoar está ligada a conflitos internos profundos que nem sempre percebemos. Quando não perdoamos, estamos reforçando esses padrões e continuamos a sofrer. O perdão nos oferece uma oportunidade de cura e renovação.

O Perdão e o Autoconhecimento

Quando olhamos para nossas feridas e reconhecemos como elas refletem nossas próprias vulnerabilidades, começamos a entender mais sobre nós mesmos. Por qual motivo isso me machucou tanto nessa situação? Será que essa dor está conectada a uma insegurança ou trauma anterior? Como tenho reagido a estas dores? Ao explorar essas perguntas, o perdão se torna uma ferramenta poderosa para o crescimento pessoal.

 

O autoconhecimento que surge através do perdão também nos permite enxergar o outro com mais clareza. Muitas vezes, as ações que nos ferem são reflexos das próprias inseguranças, medos e falhas da outra pessoa. Quando reconhecemos isso, nos tornamos mais capazes de sentir empatia. A pessoa que nos feriu também está lidando com suas próprias lutas internas, e o perdão nos ajuda a ver essa humanidade comum.

A Importância de Perdoar a Si Mesmo

Um aspecto fundamental desse pilar é a necessidade de perdoar a si mesmo. Quando não nos perdoamos por nossos próprios erros, nos tornamos mais severos e críticos em relação aos outros. O autoperdão é um componente essencial do perdão ao próximo, pois, sem ele, continuamos a nos punir e a projetar essa punição nos outros. Não perdoar a nós mesmos dificulta o processo de perdoar o próximo.

Muitas vezes, o ato de perdoar é obstruído pela autoculpa. Se sentimos que falhamos de alguma forma, seja em relação ao que aconteceu ou em relação a nossas reações, podemos ficar presos na autocrítica que nos impede de perdoar o outro. Ao aprender a nos perdoar, quebramos esse ciclo e nos permitimos ser mais compassivos, tanto com nós mesmos quanto com os outros. Ninguém é perfeito, e todos cometemos erros em algum momento.

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4. Entender para Libertar


O ato de perdoar vai muito além de uma mera escolha emocional; ele possui implicações profundas, tanto espirituais quanto mentais. Perdoar não apenas cura o coração, mas também liberta a mente das amarras que nos prendem à dor. Quando não compreendemos o perdão, acabamos retendo mágoas que se transformam em verdadeiras armadilhas para nossa saúde emocional, espiritual e física.
 

O Perdão como Mandamento Divino

A primeira e mais importante verdade que devemos entender é que o perdão é um mandamento divino. A Bíblia ensina, repetidamente, que somos chamados a perdoar, assim como Deus nos perdoa. Em Mateus 6:14-15, Jesus nos diz: "Pois, se perdoarem aos outros as ofensas deles, também o Pai celestial lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas." Isso significa que o perdão é fundamental para nossa vida espiritual. Quando escolhemos não perdoar, fechamos as portas da graça divina em nossa própria vida.

Entender essa verdade é muito importante, porque perdoar não é apenas um ato de bondade, mas um mandamento que abre portas para que as bênçãos de Deus fluam em nossas vidas. Quando resistimos ao perdão, criamos uma barreira espiritual que nos impede de experimentar a plenitude do amor de Deus.

As Consequências Espirituais do Perdão

Perdoar abre portas espirituais para o bem, enquanto não perdoar abre portas espirituais para o mal. Essa é uma realidade que muitas vezes ignoramos. A falta de perdão se torna como uma sanguessuga emocional, que aos poucos vai drenando nossa energia mental e espiritual, alimentando-se da nossa dor e ressentimento. Isso pode parecer invisível à primeira vista, mas com o tempo, a mágoa não resolvida vai se transformando em amargura e raiva, contaminando nossa alma.

A influência espiritual da falta de perdão não é algo que podemos simplesmente ignorar. Quando não perdoamos, permitimos que pensamentos negativos tomem conta de nossa mente, e esses pensamentos podem evoluir para problemas mais profundos, como depressão, ansiedade e sentimentos de insegurança. A Bíblia ensina que perdoar é também uma maneira de proteger a nossa mente contra os ataques espirituais que podem surgir na forma de sentimentos destrutivos. Efésios 4:26-27 adverte: "Não deixem que o sol se ponha enquanto vocês estão irados, e não deem lugar ao diabo." Isso revela que, ao permitir que a amargura se enraíze, abrimos portas para influências espirituais negativas.

A Amargura Endurece o Coração

A falta de perdão endurece o coração. Enquanto o perdão aquece e suaviza o nosso interior, trazendo paz e tranquilidade, a recusa em perdoar nos torna frios, insensíveis e incapazes de experimentar o amor verdadeiro. O coração endurecido pelo ressentimento perde a capacidade de compaixão, e a empatia começa a desaparecer. Isso afeta não só a relação com quem nos feriu, mas também com todos ao nosso redor. Quanto mais endurecido está um coração, mais julgadora e incapaz de se debruçar em seu próprio erro se torna a pessoa, como diz em Lucas 6:42.

Com o tempo, esse endurecimento emocional pode começar a se manifestar em nossa saúde mental e física. É comum que a amargura e a raiva reprimidas desencadeiem transtornos mentais e doenças psicossomáticas. Condições como ansiedade crônica, depressão, pressão alta, problemas digestivos e alguns transtornos podem estar ligadas ao estresse emocional causado pela incapacidade de perdoar. Não perdoar se transforma em uma raiz de amargura que contamina não só nossa alma, mas também nosso corpo.

O Julgamento e o Perigo de Não Perdoar

Um ponto importante a entender é que o perdão lança fora o julgamento. Quando não perdoamos, mantemos uma postura de julgamento constante em relação ao outro. Essa atitude nos impede de ver a situação com clareza e nos faz cair na armadilha de nos tornarmos aquilo que tanto julgamos. Quanto mais focamos nas falhas alheias, mais nos distanciamos da possibilidade de cura e libertação. Mateus 7:1-2 nos lembra: "Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados."

O ato de julgar os outros cria vício, onde o ressentimento se retroalimenta e impede a libertação emociona, nos distanciando de Deus e nos tornando mais egocêntricos. Por isso, viver constantemente em julgamento nos coloca em uma posição de resistência à graça de Deus, pois escolhemos nos concentrar no erro do outro, em vez de focar na cura que o perdão nos oferece.

O Perdão e o Verdadeiro Arrependimento

Para que o perdão seja completo e verdadeiro, é necessário que haja arrependimento. Isso não se refere apenas ao arrependimento da pessoa que nos ofendeu, mas ao nosso próprio arrependimento em relação aos julgamentos, sentimentos negativos e mágoas que mantemos em nossos corações. O perdão exige que confessemos nossa dor a Deus e peçamos sabedoria para lidar com ela de maneira saudável. Somente com um coração arrependido, podemos verdadeiramente liberar o perdão e experimentar a libertação que ele traz. A lei do perdão não se prende ao outro  que te ofendeu ou agrediu, mas ao que foi gerado dentro de você mediante isso. É um arrependimento interno de ter carregado estes sentimentos ruins para que os deixe ir embora. 

Assim como um juiz deve julgar pequenas e grandes causas, o perdão também precisa ser liberado em situações que variam de simples ofensas a grandes traumas. Às vezes, acreditamos que pequenas ofensas não precisam de perdão, mas é justamente esse acúmulo de pequenas mágoas que pode endurecer nosso coração e impedir nossa paz interior. O perdão deve ser constante e abrangente, em todos os aspectos de nossa vida, para que possamos viver livres e em plenitude.

O Perdão e o Impacto nos Relacionamentos

A falta de perdão não afeta apenas nossa saúde mental e espiritual, mas também contamina nossos relacionamentos. Quando permitimos que a amargura e a raiva se acumulem, esses sentimentos começam a transbordar para nossas interações com os outros, mesmo que eles não tenham relação direta com a ofensa original. Para um relacionamento amoroso, um casamento por exemplo, isso precisa ser rapidamente solucionado, pois quem está mais próximo de nós é quem mais recebe. Se o que meu parceiro recebe são minhas atitudes da falta de perdão, isso tendo a gerar conflitos, afastamento e divórcio. Tudo isso cria um ciclo prejudicial, no qual acabamos repetindo padrões de mágoa e afastamento em vários aspectos de nossa vida, acumulando mais falhas e consequências que precisam ser perdoadas.

​Portanto, a incapacidade de perdoar afeta nossos relacionamentos de maneiras sutis e às vezes invisíveis. Podemos nos tornar mais críticos, impacientes ou distantes, prejudicando a qualidade de nossas conexões. Relacionamentos saudáveis exigem a disposição de perdoar continuamente, pois todos somos falhos. Quando aprendemos a perdoar, estamos cultivando um ambiente de compreensão, empatia e amor, tanto com os outros quanto conosco mesmos.

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5. Amor Próprio e Divino

O quinto e último pilar do perdão é o amor próprio e o amor divino. O perdão, para ser genuíno e completo, precisa estar enraizado no amor que temos por nós mesmos, que precisa estar em uma contínua estrada que nos leva ao amor de Deus. Sem esses dois fundamentos, o ato de perdoar torna-se incompleto, pois não podemos oferecer algo que não temos internamente. O perdão é, antes de tudo, um reflexo do amor que nutre e transforma, tanto em nível pessoal quanto espiritual.

O Amor Próprio como Base do Perdão

O filme A Cabana ilustra de forma interessante o impacto da falta de perdão, tanto para consigo quanto para com o outro. Quando não conseguimos nos perdoar, isso indica uma falha de amor próprio. Amar a si mesmo é reconhecer que somos humanos, falhos, e que errar faz parte da jornada. O autoperdão é uma forma de cuidar de nossa própria alma, aliviando o peso da culpa e permitindo-nos seguir em frente com leveza. Sem essa prática, nos aprisionamos em um padrão de autocrítica que nos impede de experimentar a paz e o crescimento pessoal.

Assim como quando não perdoamos a nós mesmos, não perdoar o outro também reflete uma falha de amor. O ato de reter perdão ao outro é, muitas vezes, uma forma de julgamento – julgamos a pessoa com base em nossos conceitos e valores, mantendo-a presa a uma imagem ou a um erro específico. Isso nos distancia da verdadeira essência do perdão, que exige empatia e compaixão.

 

É aqui que entra o poder do amor divino. Pedir a Deus que nos mostre como Ele vê o outro é uma prática transformadora. Ao enxergar a pessoa que nos feriu através dos olhos de Deus, somos capazes de perceber sua humanidade, suas falhas e também sua capacidade de redenção. O amor divino nos ajuda a romper com a visão limitada que temos do outro e a abrir espaço para o perdão. Da mesma forma, pedir a Deus que nos mostre como Ele nos vê nos ajuda a perceber nossa dignidade, a aceitar o perdão e a nos libertar da autocrítica. Tem áreas do perdão que a nossa capacidade humana pode não conseguir, mas com Deus ao seu lado você consegue.

A Sala da Apreciação e da Depreciação

Em nossas mentes, existe o que podemos chamar de sala da apreciação e da depreciação. Essa metáfora ajuda a entender como o perdão e o amor próprio estão interligados. Quando nos posicionamos na sala da apreciação, somos capazes de cultivar amor próprio e divino. Nessa sala, vemos a nós mesmos e aos outros com os olhos do amor e da compaixão. Reconhecemos nossas falhas, mas também vemos nossa capacidade de mudar, crescer e perdoar. A sala da apreciação é um lugar de graça, onde o perdão flui naturalmente porque é sustentado pelo amor incondicional.

Por outro lado, quando nos colocamos na sala da depreciação, alimentamos a falta de perdão. Nessa sala, nos concentramos nos erros, nas falhas, e cultivamos um olhar crítico e julgador sobre nós mesmos e sobre os outros. O ressentimento cresce, e a falta de perdão se enraíza, nos distanciando da libertação emocional.

 

Aprender a escolher a sala da apreciação é um exercício contínuo, que envolve cultivar diariamente o hábito de olhar para nós mesmos e para os outros com os olhos do amor e da compaixão, em vez da crítica e da condenação. Se pergunte: "em qual sala tenha passado mais tempo?" e isso revelará um pouco sobre você mesmo. A sala da apreciação deve ser rica de móveis, itens, utensílios, lembranças. A sala da depreciação devemos estar sempre encaixotando os itens para lançar na "lixeira do esquecimento."

O Exemplo de Perdão de Jesus Cristo

A fonte mais poderosa e definitiva de perdão é o exemplo de Jesus Cristo. A Bíblia ensina que Cristo perdoou não apenas os que o amavam, mas também aqueles que o traíram e crucificaram. Em Lucas 23:34, enquanto sofria na cruz, Jesus disse: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo." Esse ato de perdão extremo mostra que o perdão não depende das ações dos outros, mas da decisão de amar incondicionalmente, mesmo diante da injustiça e da dor.

Cristo nos ensina que o perdão é uma decisão de libertar o outro e a nós mesmos das garras da amargura. Seu perdão não foi dado porque as pessoas mereciam ou pediram, mas porque Ele escolheu perdoar por amor. Muitas vezes falamos que perdoamos, mas desejamos o mal do próximo (Romanos 12:14), tratamos com indiferença (Romanos 12:17-19), torcemos para que receba as consequências ruins e não abençoamos (Mateus 5:43-45) e isso não é perdão. Seguir o exemplo de Cristo é aprender a perdoar sem condições, movido pelo desejo de aliviar a carga emocional que o ressentimento traz. Esse tipo de perdão profundo e transformador só é possível quando nos conectamos com o amor divino.

O perdão é um ato de amor

Quando entendemos que o perdão nasce do amor – tanto por nós mesmos quanto pelo outro – fica claro que o perdão não é apenas um ato de misericórdia, mas também um ato de libertação. Não se trata apenas de libertar o outro, mas de nos libertarmos das correntes do ressentimento, da dor e da culpa que corroem nossa alma.

Amar é não contabilizar erros. Essa verdade nos desafia a não ficarmos presos ao passado, somando as falhas e os erros cometidos por nós ou pelos outros. O amor nos chama a uma atitude de renovação constante, onde as ofensas não são mantidas como armadilhas emocionais, mas onde, através do perdão, somos capazes de começar de novo. O amor próprio, sustentado pelo amor divino, é a base para que o perdão se torne parte de nossa jornada.

Escolher perdoar é um ato de amor não apenas pelo outro, mas por nós mesmos. O perdão transforma a maneira como enxergamos o mundo, pois nos torna menos propensos a guardar rancor e mais abertos à reconciliação e ao crescimento.

O amor divino, ao qual temos acesso através da fé e da oração, é o combustível que nos ajuda a sustentar o perdão, mesmo quando é difícil. Quando pedimos a Deus que nos ajude a perdoar, estamos nos alinhando com a vontade d'Ele, que é sempre voltada para a cura e a libertação. Confessar a Deus o que nos dói e pedir sabedoria é essencial para esse processo, pois é através dessa conexão com o divino que encontramos força para seguir em frente.

Conclusão

O perdão é um ato que toca as profundezas da nossa alma. À medida que percorremos os cinco pilares, começamos a entender que o perdão é muito mais do que uma simples decisão; é um processo de cura contínua que exige paciência, autoconhecimento e, acima de tudo, amor – por nós mesmos, pelo outro e por Deus. O perdão não acontece de uma vez, nem é um caminho linear. A cada passo, vamos reconhecendo a dor, compreendendo nossas falhas e vulnerabilidades, e permitindo que o amor divino nos guie rumo à libertação.

Nosso inconsciente carrega experiências de dor e frustração que, muitas vezes, ficam reprimidas. Essas emoções não resolvidas podem criar bloqueios que afetam profundamente nossa psique, distorcendo a forma como percebemos a nós mesmos e aos outros. Quando não enfrentamos essas mágoas, elas se transformam em raízes de amargura, que contaminam nossos pensamentos e relacionamentos, nos deixando presos a falta do perdão.

A falta de perdão também tem um impacto espiritual. Influências malignas podem se aproveitar dessa brecha para injetar pessimismo, medo e julgamentos em nossa mente, amplificando o sofrimento e prejudicando diversas áreas da nossa vida. É por isso que perdoar é mais do que uma escolha pessoal – é uma decisão espiritual que nos protege da influência do mal e nos alinha com a vontade de Deus, que é sempre voltada para a cura e a paz.

Perdoar é abrir espaço para o novo, para a leveza, para o florescimento do nosso ser. É um ato que nos liberta das amarras do ressentimento e da dor e nos conduz à verdadeira paz. Seja pela fé, pela terapia, ou por ambos, o perdão nos dá o poder de transformar nossas feridas em lições, nossos erros em sabedoria, e nossas falhas em oportunidades de crescimento.

Se o perdão não vier imediatamente, isso não significa que falhamos – apenas que estamos no meio do processo. Perseverar no caminho do perdão é essencial, pois a cada etapa damos mais um passo rumo à cura. Lembre-se de que todos somos falhos e carentes de graça, e reconhecer isso nos aproxima da essência de Deus, que nos perdoa incondicionalmente.

Por fim, o que nos impede de perdoar é também o que nos impede de amar. E se não tratarmos essa incapacidade de amar, ela envenena nossa alma e impede nossa libertação. Ao escolher perdoar, escolhemos viver plenamente, livres das correntes que nos prendem ao passado. Que possamos, através do perdão, alcançar a paz, a cura e a renovação da nossa mente e espírito.

Referências bibliográficas:
- A bíblia sagrada.

escrito por Aías Tavares.

Olhe para dentro,
para as profundezas.
Aprenda primeiro
a se conhecer.

- Freud

Tire todas suas dúvidas no espaço de dúvidas frequentes.

" Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
  cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. " 

  Mateus 6:34

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